Natalia Viana, Rafael Neves, Agência Pública/The Intercept Brasil
- Nos seus pouco mais de 20 anos no FBI, a agente especial Leslie R.
Backschies esteve diversas vezes no Brasil. Backschies, cujo nome do
meio é Rodrigues, com a grafia portuguesa, é fluente na língua nacional e
vem ao país desde pelo menos 2012, ano em que há um primeiro registro
de uma visita sua à Polícia Militar de São Paulo. O objetivo daquela visita
era firmar parcerias para capacitação de policiais para responder a
ameaças terroristas antes da Copa de 2014.
Ao longo de sua carreira, Leslie trabalhou na divisão de Segurança
Nacional do FBI, atuando nas áreas de contraterrorismo e resposta a
armas de destruição em massa – ela foi co-autora de um guia sobre armas
biológicas para o site Jane’s Defense.
Trabalhando para a Divisão de Operações internacionais do FBI, em
2012 Leslie mudou-se para a América do Sul, passando a viver em local
não revelado, de onde supervisionava os escritórios do FBI nas capitais
do México, Colômbia, Venezuela, El Salvador e Chile, além dos agentes do
FBI lotados na embaixada em Brasília. No mesmo posto, comandou
operações da polícia federal americana em Barbados, República
Dominicana, Argentina, Panamá e no Canadá.
Mas nos últimos anos, a carreira de Leslie deu uma guinada. De
especialista em armamentos e terrorismo, ela passou a se dedicar a
investigar casos de corrupção e lavagem de dinheiro na América Latina –
com destaque para o Brasil.
Em 2014, Leslie foi designada pelo FBI para ajudar nas investigações
da Lava Jato. A informação consta de reportagem do site Conjur sobre
evento promovido pelo escritório de advocacia CKR Law em São Paulo, em
fevereiro de 2018, que contou com presença dela. A atuação de Leslie foi
considerada “um trabalho tremendo” e “crítico para o FBI” pelos seus
supervisores, segundo seu ex-chefe afirmou em um evento sobre o combate à
corrupção em Nova York no ano passado acompanhado por uma colaboradora
da Pública.
Leslie se tornou especialista na legislação FCPA, Foreign Corrupt
Practices Act, uma lei americana que permite que o Departamento de
Justiça (DOJ) investigue e puna nos Estados Unidos atos de corrupção
praticados por empresas estrangeiras mesmo que não tenham acontecido em
solo americano. Foi com base nessa lei que o governo americano
investigou e puniu com multas bilionárias empresas brasileiras alvos da
Lava Jato, dentre elas a Petrobras e a Odebrecht, que se comprometeram a
desembolsar mais de US$ 4 bilhões em multas para os EUA, Brasil e
Suíça.
Hoje morando de novo nos Estados Unidos, Leslie comanda a Unidade de
Corrupção Internacional do FBI, cuja grande novidade no ano passado foi
um escritório aberto em março em Miami apenas para investigar casos de
corrupção na América do Sul, o Miami International Corruption Squad.
A unidade conta com seis agentes especiais, um supervisor e um
contador forense que atuam na cidade conhecida por receber exilados
cubanos, venezuelanos e, mais recentemente, uma enxurrada de ricos
brasileiros. “Você não pode apenas ter um agente ou dois em um
escritório em campo trabalhando com isso…. Não dá para trabalhar com
isso apenas duas ou três horas por semana. Assim não vai funcionar. Você
precisa de recursos dedicados em período integral”, afirmou Leslie à à
Agência de Notícias Associated Press.
O esquadrão para América do Sul é o quarto esquadrão do FBI
especializado em corrupção internacional. Todos foram abertos nos
últimos cinco anos – ao mesmo tempo que a maior investigação de
corrupção da história brasileira varria o continente.
A reportagem pediu uma entrevista a Leslie Backschies, mas não obteve resposta até a publicação.
Cinco anos depois, Leslie parece bastante satisfeita com os
resultados. “Nós vimos muita atividade na América do Sul — Odebrecht,
Petrobras. A América do Sul é um lugar onde… Nós vimos corrupção. Temos
tido muito trabalho ali”, disse ela à Agência de Notícias Associated
Press no começo de 2019.
“Não dá pra ser melhor do que isso”, ela afirmou no evento da CKR Law
em São Paulo. “Nossa relação com o Brasil é o modelo de colaboração
para países lutando contra crimes financeiros”.
“Isso é apenas o começo. Temos o enquadramento correto, a vontade e os fundos para continuar trabalhando juntos”.
Em outubro de 2015, Leslie fez parte da comitiva de 18 agentes
americanos que foram a Curitiba se reunir com procuradores e advogados
de delatores sem passar pelo Ministério da Justiça, órgão que deveria,
segundo a lei, intermediar todas as matérias de assistência jurídica com
os EUA, segundo revelaram Agência Pública e The Intercept Brasil.
A proximidade com a equipe da Lava Jato era tanta que Leslie foi um
dos agentes do FBI que posaram com um cartaz apoiando o projeto de lei
das 10 Medidas Contra a Corrupção, bandeira da Força-Tarefa e em
especial do seu chefe, Deltan Dallagnol, que foi derrotada no Congresso
Nacional.
Em um chat com Deltan em 18 de maio de 2016 constante do arquivo
entregue ao site The Intercept Brasil, a procuradora Thaméa Danelon,
ex-coordenadora da Força-Tarefa em São Paulo, brincou antes uma viagem
para os EUA: “Vou tentar tirar uma foto c a Jennifer Lopes e o cartaz
das 10 Medidas”, brinca ela. “Os agentes do FBI já apoiaram. Mas não
pode publicar a foto ok? Eles não deixaram”, explica Thaméa, enviando a
foto a seguir.
A imagem foi posteriormente apagada e não consta do arquivo entregue
ao Intercept. Se divulgada, ela poderia causar uma saia justa ao MPF por
se tratar de autoridades estrangeiras atuando em uma campanha
legislativa nacional.
Thaméa diz que na foto todos são agentes, com exceção de uma
tradutora brasileira. Mostrando familiaridade com a agente americana,
Deltan Dallagnol se entusiasma e diz que a imagem lembra o filme Missão
Impossível, estrelado por Tom Cruise. “Legal a foto! A Leslie está em
todas rs”.
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Professor Augustão (Historicamente Na Luta!)
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