Impressionante como a Globo, fiadora do golpe, está desesperada com a permanência de Michel Temer. Em seu editorial ela parte pra cima de Temer, não o quer mais lá, mas em contrapartida não perde o foco em atacar Lula, Dilma, PT ao mesmo tempo.
O cinismo é tão grande que nos enoja. Todos sabem que o grupo de comunicação apoiou decisivamente a "terra arrasada" o "quanto pior melhor", chamou os movimentos anti-Dilma e anti-PT para as manifestações a partir de 2013 e principalmente após a derrota em 2014, que culminou no impeachment sem provas e agora na tentativa de se sair da enrascada ao apoiar Temer para tocar as reformas do mal quer mudar seu discurso...
Quer dar ao leitor desavisado ou imprudente que nada teve a ver com a desastrada política que aí está...Leiam:
Do editorial do Globo:
Aprovar processo contra Temer é a melhor alternativa
Reformas corretas de Temer não justificam que ele fique imune a investigações e a processos
Depois de
quase um ano, o país volta a acompanhar uma votação no Congresso para
decidir o destino do presidente da República. No caso de Dilma Rousseff,
o processo de impeachment, por crime de responsabilidade, por desmandos
fiscais, foi encerrado em 16 de agosto, no Senado, com o impedimento da
presidente petista. Hoje, seu então vice, Michel Temer, enfrenta outro
tipo de escrutínio: um pedido da Procuradoria-Geral da República para
que a Casa permita ao Supremo Tribunal deliberar sobre se o processa,
como deseja a PGR, por corrupção passiva.
Duas
decisões sobre o futuro de um presidente em tão pouco tempo, longe de
diagnosticarem alguma avaria grave nas instituições, atestam, ao
contrário, o saudável funcionamento delas. Têm resistido, inclusive, a
propostas heterodoxas, contra a Constituição, como a antecipação das
eleições de 2018, enquanto sinalizam que as únicas saídas para a crise
são as estabelecidas na Carta — a Câmara nega o pedido da PGR, ou o
aceita; neste caso, fica-se à espera de os 11 ministros do Supremo
abrirem ou não processo contra Temer.
Caso abram,
o presidente será afastado por até 180 dias, assumindo Rodrigo Maia,
presidente da Câmara. Se for condenado, perde o cargo, e Maia convoca
eleição indireta para 30 dias depois. Absolvido ou caso nada aconteça em
seis meses, Michel Temer volta ao Planalto. Não há o que discutir.
Também não
existe dúvida sobre qual o melhor voto a ser dado na sessão que decidirá
o destino do pedido da PGR: é permitir que o Supremo julgue Michel
Temer. Talvez sequer ocorra esta sessão. Pode ser que pelo fato de o
Planalto, por não ter força, assim como a oposição, para garantir o
quórum mínimo de 342 deputados e votar o relatório em favor de Temer, do
deputado tucano Paulo Abi-Ackel (MG), fique tudo pendente, e o governo
assuma o discurso de que vale este relatório.
Assim, tudo
continuará como está. Instável, inseguro, até outubro de 2018, mês da
eleição. Pode-se, ainda, aguardar nova acusação da PGR, por outros
crimes — obstrução da Justiça ou participação em organização criminosa.
Nessa hipótese, repete-se o rito.
Hoje ou
quando for a votação, e mesmo que ela não ocorra, estão em confronto,
nas acusações a Michel Temer e na sua defesa, duas concepções do que é
exercitar a política com ética. Numa, tudo pode ser relevado, se o
governo tem propósitos corretos na economia, por exemplo. Na outra,
valem a lei e a ética, independentemente de ideologias e partidos.
O
vice-presidente recebeu de fato uma herança maldita, devido à decisão de
Dilma, sob as bênçãos de Lula e PT, de aproveitar a crise mundial
deflagrada em 2008/9 para aprofundar o “novo marco macroeconômico”, no
velho modelo nacional-populista de intervenção do Estado na economia,
inspirado nos pensamentos fracassados da esquerda latino-americana do
pós-guerra. Sabe-se o que aconteceu: recessão profunda, histórica, 14
milhões de desempregados e inflação. Os juros precisaram ficar em
patamar ainda mais elevados, o que, em um primeiro momento, agrava a
recessão, um efeito colateral inevitável. Mas, com o passar do tempo, o
ajuste avançou, embora tenha estancado com a crise política deflagrada
pela conversa nada republicana do presidente com o empresário Joesley
Batista, origem do pedido de investigação da PGR, divulgado pelo GLOBO.
Temer
assumiu com uma competente equipe econômica e estruturou uma correta
agenda de reformas, em que se destacam as da Previdência e a
trabalhista. Em função disso, defende-se a permanência dele no Planalto,
e faz-se vista grossa ao que aconteceu naquela noite de março nos
porões do Palácio do Jaburu, em que o presidente recebeu o empresário do
grupo JBS, Joesley Batista, este com um gravador no bolso.
Repete-se o
truque do PT, de justificar a participação de estrelas do partido na
roubalheira do mensalão e petrolão pela causa do combate à pobreza. É um
erro: nada pode atenuar o crime de corrupção ou qualquer outro. Ter
este comportamento é praticar a política miúda. Significa não aproveitar
o momento histórico do enfrentamento que organismos de Estado fazem dos
desvios do dinheiro do contribuinte no âmbito do Executivo e
Legislativo, para que, enfim, se dê um choque forte de ética na política
e seja estabelecido para valer o princípio republicano de que a lei
vale de fato para todos.
Confirmada a
autenticidade do áudio por peritos da Polícia Federal, resta entender o
sentido claro do entrecortado diálogo entre Temer e Joesley, e
complementá-lo com o vídeo de Rodrigo Loures — que agendara aquela
visita de Joesley ao presidente —, correndo em uma rua de São Paulo com
uma maleta em que estavam R$ 500 mil. Era propina acertada pelo
empresário com o deputado suplente do PMDB paranaense, que Temer
indicara a Joesley para resolver “tudo”, inclusive uma pendência com a
Petrobras no Cade, em torno do preço do gás fornecido pela estatal a uma
termelétrica do JBS. Os R$ 500 mil eram uma parcela pelo serviço
prestado pelo representante de Temer, acusa a PGR. O conjunto desta obra
é complementado por depoimentos do empresário e de um diretor da JBS
que participou dos acertos com Loures, Ricardo Saud.
Ora, o que o
Ministério Público Federal entende sobre o comportamento do
ex-presidente Lula nas relações promíscuas com empreiteiras precisa
valer para todos. Não pode existir uma metodologia de interpretação de
fatos entre procuradores e juízes que só valham para o PT. Evidências e
indícios são provas válidas para que se abram processos. Isso tem
acontecido com vários políticos, Lula um deles. Inconcebível é fazer de
conta que nada houve de pelo menos estranho no relacionamento entre
Temer, JBS, Joesley, Loures e outros.
Lula está
para a OAS no caso do tríplex do Guarujá como Michel Temer para a JBS no
assunto do gás da termelétrica. Sem falar na triangulação com Joesley,
Eduardo Cunha e Lúcio Funaro, um relacionamento também suspeito, mas
ainda na dependência de delações e investigações. Assim como as
instituições prestam conta à sociedade no desmantelamento do petrolão,
em que se lambuzaram PT, PMDB e PP, a nação precisa ter inúmeras dúvidas
respondidas sobre a atuação do presidente Michel Temer nesses meandros
dos subterrâneos das finanças ocultas da política. Também por isso, ele
precisa ser processado. E nisso as próprias reformas serão ajudadas. Um
presidente fraco, sob suspeição, é que não conseguirá tocá-las.