"O governo Lula reorganizou a política produtiva de petróleo e gás,
bem como os instrumentos de incentivo à indústria nacional, visando adequar as
necessidades da Petrobrás ao desenvolvimento da indústria nacional", dizem
os sindicalistas da Federação Única dos Petroleiros (FUP) e
Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM/CUT); em nota divulgada nesta
quarta-feira (26), as duas entidades defendem as políticas do governo Lula para
o pré-sal.
Quando se acredita, o Brasil dá certo
Entre 2003 e 2014, a Petrobrás liderou praticamente uma revolução industrial
no Brasil. O país deu um salto tecnológico e produtivo imenso, a partir da
descoberta do pré-sal, em 2007, o que permitiu o reposicionamento de várias
cadeias produtivas nacionais. As descobertas do pré-sal dobraram o volume de
reservas recuperáveis da Petrobrás, que passou de 15,7 bilhões de barris de
óleo equivalente para 31,5 bilhões. Em 2012, uma consultoria estimou que,
confirmando-se a existência de 100 bilhões de barris de reservas na área do
pré-sal, seriam necessários investimentos da ordem de US$ 1,2 trilhão. Somente
no período 2012 a 2016, esperava-se que os investimentos, apenas para o
desenvolvimento e exploração do pré-sal, alcançassem algo próximo a US$ 100
bilhões.
Ou seja, na prática, isso se traduziria no desenvolvimento e aquisição de
uma série de equipamentos, máquinas e produtos para a exploração do pré-sal.
Segundo uma matéria do Estado de São Paulo, que tomou como base um estudo da
consultoria Booz naquele período, a Petrobrás necessitaria nos anos seguintes
de “330 geradores à turbina, 610 mil válvulas, 10 mil quilômetros de cabos
elétricos submarinos (umbilicais), 17 mil quilômetros de tubos flexíveis
(risers), 4,8 milhões de toneladas de aço, milhares de peças de complexos
equipamentos submarinos, 68 milhões de homens-hora de engenharia e um bilhão de
horas de trabalho para a construção e montagem”. Ou seja, a grandeza do
pré-sal, exposta pelos números acima, demandaria da Petrobrás uma articulação
gigantesca entre fornecedores de bens e serviços para atender a todas essas
necessidades. Além disso, abriria uma oportunidade única na história da
economia brasileira para que a indústria nacional se desenvolvesse e se
tornasse competitiva em termos globais.
No caso da indústria naval, essa oportunidade era ainda mais ampla.
Primeiro, porque as encomendas da Petrobrás, e possivelmente de outras
operadoras, envolviam uma série de equipamentos – embarcações de apoio,
movimentação de carga, plataformas e navios-sonda – de altíssimo valor
agregado, cujo mercado tinha pouca oferta internacional e era bastante
concentrado (Japão, China e Coreia dominam cerca de 70% desse mercado). Para se
ter uma ideia, em 2011, a Petrobrás aguardava meses para receber uma sonda
alugada no valor US$ 500 mil ao dia. Segundo, porque a forte demanda do
comércio exterior marítimo ao longo dos anos 2000 gerou uma forte expansão da
oferta de embarcações a nível global. Como comparação, cabe lembrar que, entre
2003 e 2011, o crescimento do número de embarcações produzidas no Brasil
(414,3%) foi um pouco superior ao de Japão, Coreia e China juntos (329,1%). Em
outras palavras, o ritmo de produção no Brasil estava adequado em relação ao
mundo, principalmente quando se considera a expansão da demanda gerada pela
Petrobrás. Portanto, o cenário externo favorável e a descoberta do pré-sal
abriram uma oportunidade única de desenvolvimento na indústria naval.
Nesse sentido, o governo Lula reorganizou a política produtiva de petróleo e
gás, bem como os instrumentos de incentivo à indústria nacional, visando
adequar as necessidades da Petrobrás ao desenvolvimento da indústria nacional.
Em primeiro lugar, a resolução nº 8, de julho de 2003, estabeleceu que a
fixação de percentual mínimo de conteúdo nacional para o fornecimento de bens e
serviços utilizados na exploração e produção de petróleo e gás natural, deveria
ser ajustada permanentemente à evolução da capacidade de produção da indústria
nacional e aos seus limites tecnológicos. Isto é, a expansão da demanda da
Petrobrás deveria ser articulada à capacidade de ofertar da nossa indústria.
Em segundo lugar, o governo gerou uma série de incentivos à indústria naval,
visando reduzir custos, melhorar eficiência e acelerar a qualificação do setor,
como: garantia de preferência às empresas de bandeira brasileira nas
contratações de fretes e serviços de apoio em operações marítimas e portuárias;
vantagens tributárias (isenção do recolhimento de taxa de manutenção do Fundo
de Desenvolvimento do Ensino Profissional Marítimo, por exemplo);
estabelecimento de conteúdo local na exploração e produção de petróleo;
estabelecimento de taxas de juros e participações diferencias nos
financiamentos com recursos no Fundo da Marinha Mercante (FMM) – uma linha de
crédito específica para a indústria naval; criação do Fundo de Garantia à
Construção Naval (FGCN) a fim de minimizar o risco de crédito com as operações
de financiamento das construções de embarcações; e a criação do Prominp que
elaborou uma política especifica de qualificação para o segmento. Portanto, o
que fez foi estruturar uma política para o setor naval convergente com as
demandas da Petrobrás e do mundo que permitisse gradualmente a esse setor sua
inserção competitiva em termos globais. E, cabe reforçar, que esse processo foi
feito em forte articulação tanto com a Petrobrás, como com os empresários no
setor. Não por acaso, a própria consultoria Booz afirmou no seu estudo que as
maiores demandas dos fornecedores nacionais eram melhores condições fiscais,
juros mais baixos, necessidade de novas linhas de crédito e falta de
qualificação de pessoal.
Na realidade, todas essas medidas não foram uma “invenção mágica” do governo
Lula, mas um roteiro bem coordenado já realizado por outros países. A Coreia,
por exemplo – um país que não produz petróleo – incentivou amplos
“investimentos em educação pública e do apoio financeiro do governo para seus
três grandes conglomerados - Hyundai, Samsung e Daewoo - , que hoje são líderes
globais do setor.
E, como resultado dessa política, já se observava a criação de grandes
estaleiros nacionais com capacidade de competir globalmente – como o Brafels –
que, inclusive, já produz embarcações para outras empresas, além da Petrobrás. Além
disso, o número de empregados já tinha crescido absurdamente saindo de algo de
11 mil trabalhadores, em 2002, para mais de 71 mil, em 2014. Os investimentos
do setor realizado somente pelo FMM superaram a marca dos US$ 7 bilhões, entre
2005 e 2012. A produção de embarcações no Brasil saiu de apenas 21 embarcações,
em 2003, para 124, em 2014. E, por fim, a Petrobrás vinha conseguindo elevar
gradualmente a participação da indústria nacional à sua atividade sem impedir o
crescimento da sua produção e dos seus resultados financeiros.
Portanto, as recentes matérias, como o da New York Times da semana passada,
que jogam o ônus da atual crise sobre os ombros do governo Lula pecam por duas
razões: omitem o êxito das políticas executadas por seu governo e “se esquecem”
do impacto da atual destruição da Petrobrás e da indústria nacional sob o
governo Temer. Destruição que já significou a eliminação de mais de 40 mil
empregos do setor naval, o fechamento de sete estaleiros e o desaparecimento de
mais de US$ 5 bilhões de investimento. Mas, para eles isso ainda não é
suficiente, porque o objetivo é destruir o sonho da indústria brasileira de
competir de igual para igual com o exterior. Ainda mais, quando esse sonho
estava virando realidade nas mãos de um trabalhador brasileiro.
Federação Única dos Petroleiros (FUP) e Confederação Nacional
dos Metalúrgicos (CNM/CUT)
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